sábado, 15 de maio de 2010

arianos

Manhã de sábado. Ô delícia. Ainda mais depois de uma sexta em que se tinha 3 provas a fazer na Faculdade, e mais 1 de Espanhol. Nada como uma manhã de sábado. Gostinho de alma lavada. Bom demais. E eu aqui ouvindo música, fazendo pesquisinhas na internet. De boa. Eu poderia me acostumar com essa vida, fácil fácil.

Ouço Cazuza.
Ah, Cazuza! Me pergunto se eu não teria nascido na época errada, no lugar errado, cercada pelas pessoas erradas. E se, na verdade, meu lugar certo fosse um lugar errado assim como o do Cazuza, uma vida errada como a dele? Hum?

Ouço suas músicas, e não consigo deixar de compartilhar seus sentimentos, seus medos, suas fúrias. É bom se encontrar assim em alguém. Mesmo que seja em alguém que tenha sido tão julgado e discriminado. E que ainda o é até hoje. Particularidades de cada um. Percebi que tínhamos algo em comum: somos arianos. Tudo bem que eu sou a ariana menos ariana de todos os tempo e ele, talvez, seja o ariano mais ariano de todas as dimensões, e tempos futuros e passados. Mas, afinal, arianos.

Ele tinha pensamentos profundos. Interessantes. Extasiantes.

Cantando a gente inventa. Inventa um romance, uma saudade, uma mentira... Cantando a gente faz história. Foi gritando que eu aprendi a cantar: sem nenhum pudor, sem pecado. Canto pra espantar os demônios, pra juntar os amigos. Pra sentir o mundo, pra seduzir a vida.
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Sou ariano. E ariano não pede licença, entra, arromba a porta. Nunca tive medo de me mostrar. Você pode ficar escondido em casa, protegido pelas paredes. Mas você tá vivo, e essa vida é pra se mostrar. Esse é o meu espetáculo. Só quem se mostra se encontra. Por mais que se perca no caminho.

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Sou da geração do desbunde. Nunca tive saco pra milico, desfile, gente com medo. Todo mundo ficava paralisado, mudo, anestesiado. Não dava pra fingir que não tinha nada. Pra mudar alguma coisa a gente teve que gritar, se drogar, ir pra rua, enfrentar a nossa própria fraqueza. Era uma maneira de não se render. De não ficar careca, careta.
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Estou escrevendo numa tarde cinzenta, fria. Trabalho pra espantar a solidão e meus pensamentos. Perdi muito tempo com este segredo. Hoje eu assumi publicamente a doença. Dizem que gente grande faz assim. Talvez eu esteja ficando grande. Mas ainda tenho muitos medos: medo de voar, de entrar no palco, de amar, de morrer... de ser feliz. Medo de fazer análise e perder a inspiração. Ganho dinheiro cantando as minhas desgraças. Comprar uma fazenda e fazer filhos, talvez fosse uma maneira de ficar pra sempre na Terra. Porque discos arranham e quebram… as pessoas, esquecem. Amor, Cazuza.
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Essas frases eu descobri procurando por uma que eu particularmente degusto profundamente sempre que a ouço. Eu a declamo, no tom e no timbre do Cazuza. E, no fim, me arrepio. Essa é aquela em que eu acredito.

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O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo, indo embora. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idéia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, como as borboletas que só vivem 24 horasMorrer não dói.


Quem assiste "Cazuza - O Tempo Não Pára" comigo?


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