quarta-feira, 10 de março de 2010

esqueceram de mim

Eu sabia que estava desmoralizada na minha sala. Mas isso também já é o cúmulo. Ser simplesmente abandonada, deixada pra trás é desumano. Explico-me: manhã, 08:27hrs, sala da pediatria, professora ainda não presente, cerca de 10 alunos na sala já, dentre os quais pelo menos 1 pessoa que eu considero (considerava?) minha amiga. Preciso ausentar-me. Pego celular, caneta e bloco de anotações – sempre ande com blocos de anotações pois você nunca sabe quando será extremamente necessário (me lembra de escrever depois o porquê!). Vou ao laboratório de informática dar uma ajuda a uma amiga via MSN. Algum tempo depois ... ♪ ♫ manhã, 09:02hrs, sala de pediatria de novo, mas o ambiente é outro: luz apagada, ar condicionado desligado, ninguém na sala, nenhum material na sala – exceto o meu. Juro que não to mentindo. Olho meu celular. Nenhuma mensagem. Nenhum ligação. Nenhum toquinho. Valeeeeew amicos! Recolho minhas míseras coisas, ainda pensando Valeeeeew meeeeesmo amicos! Encontro, enquanto recolho minhas bugigangas, um amigo de outra sala aparece. Conto-lhe minha triste história. Ele sorri com pesar. E filosofa: “É nessas horas que eu penso ‘será que se eu deixasse meu material, alguém pegaria?’ É, acho que não.” Pois é amigo, somos dois. Quem diria hein? Tá, não sou a mais amada – foda-se quem concordar – mas isso também é quase uma declaração de ódio mortal. POR FAVOR, NOS DEIXE EM PAZ! VÁ EMBORA! GO AWAY! LEAVE US KIDS ALONE! Sem necessidaaaaade, sem necessidaaaaade. Tudo bem, pensemos no que pode ter acontecido. Terremoto? Não, eu teria percebido. Homicídio? Não, tava tudo muito limpinho. Aula cancelada? Possível. Telefono pr'aquela suposta pessoa amiga. Não atende. Que surpresa. Telefono para uma segunda suposta pessoa amiga. Idem. Telefono então pro terceiro suposto amigo. Atende. Com voz de c*, mas atende. “É na sala do lado.” E desliga. Me dirijo a sala ao lado. Abro a porta. Licença, professora. Ela assente. Risinhos ao fundo. Vão tomar nos vossos ânus, seus filhosdégua. Fria e calmamente procuro uma cadeira vazia, preferencialmente com o mínimo de contato com aqueles que simplesmente me esqueceram. Há uma cadeira bem na frente. Perfeito. Sento, abro o caderno, copio o título. Perdi o início da aula. O restante fiz questão de perder também. Mágoa, tristeza, ressentimento. E a professora falando do bebezinho. Quisera eu poder pensar no bebezinho nessa hora. Mas não dava. Passo os 40 minutos restantes da aula olhando para a projeção. Intervalo. Suposta amiga 1 se aproxima. “Deixa eu ver as apostilas que tu já tens? Posso tirar xerox tbm?” E me sorri. Eu séria, monossilábica, assento. Ela, estranha – o porquê de ela estranhar meu jeito é simplesmente indigno de nota – e pergunta “vais ficar aí? eu hein, toda autista”. Eu, balanço a cabeça. O que eu poderia falar? Jogar-lhe na cara a falta de consideração com a minha pessoa? Posso não ser grande coisa, mas respeito nunca é demais. Todos saem alegres e felizes, serelepes da aula de Pediatria. Eu séria. Eles olham torto. Claro. Eu é que não presto né? Eu é que sou a errada. Sempre, né? Tá bom então. Mais uma vez, indigno de nota. De quê me adianteria falar algo? Hein? Pra quê? Pra eu não me agüentar e me ver em lágrimas? E vê-los, mais uma vez, me ridicularizando? A boba. A trouxa. Talvez. Só sei que me magoaram. Se foi intencional ou não, não me importa. Tenho vontade de esperar pela maior vingança da humanidade. Mas sabe o que é o pior? O que me dá mais raiva? É saber que, apesar do sentimento momentâneo – cuja validade pode se extender até 24horas, mas raramente além disso – e do desejo sedento de vingança e sangue [mwahahahaha], em algum tempo tudo é internalizado e fagocitado – pelo menos a maior parte – e em alguns dias lá estou eu: a aula acabou, alguém esqueceu o material; quem guarda? eu. Dever? Não. Simples prazer em servir. Odeio ser assim.

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